quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O CAPITALISMO E A VAIDADE

Costuma-se dizer que o capitalismo é eficiente em produzir riqueza, mas não em distribuí-la, ao passo que o socialismo foi eficiente em distribuir riqueza e não em produzi-la. Os socialistas que se julgam mais preocupados com o aspecto humano, parece não terem percebido que as pessoas têm outros sentimentos além de fome e frio. No socialismo ao satisfazer as necessidades básicas nada resta a fazer. Teoricamente todos têm as mesmas posses, não há expectativas. Há uma frustração coletiva, principalmente dos mais capazes, devido ao nivelamento. O real significado da igualdade não foi compreendido pelos socialistas.
O grande mérito do capitalismo, até então, tem sido, mais do que produzir riquezas, produzir expectativas. É esta particularidade que tem feito o capitalismo sobreviver a várias crises. É a ligação entre as expectativas criadas pelo capitalismo e a vaidade humana que lhe dá vida. A vaidade como vício, a necessidade de chamarmos a atenção dos outros, de sermos diferentes, amados, invejados encontrou terreno fértil no capitalismo.
Marx chamou de fetiche da mercadoria a percepção por parte do proletariado de que as mercadorias são dotadas de vida própria, mascarando a apropriação pelo capitalista de parcela do trabalho humano. Esta visão parece correta, mas está incompleta. As mercadorias representam, de fato, a possibilidade do consumidor materializar sua vaidade. O carro novo, por exemplo, é tido como mais do que um meio de transporte, ele significa, também, o quão diferente seu proprietário é. Quanto mais exclusiva a mercadoria, melhor. Isto nos dá prazer, nos vicia – é o vício da vaidade.
O consumismo, exorcizado no socialismo, tornou-se a alma do capitalismo. O consumismo, não raro, é popularmente citado como remédio para baixa auto-estima ou depressão (com resultado duvidoso, é verdade). O estudo do comportamento do consumidor na teoria microeconômica já diagnosticou atitudes às quais classificou de efeito demonstração, caracterizando-se pela situação na qual elementos de estratos sociais mais pobres imitam os hábitos de consumo dos mais ricos.
O capitalismo é ineficiente na distribuição de riqueza, porém é muito eficiente na distribuição de expectativas. Melhor do que massificar mercadorias o capitalismo massificou esperança. No capitalismo todos têm a expectativa de se destacarem algum dia. Embora qualquer análise menos emocionada levasse facilmente a conclusão de que esta probabilidade é pequena, a vaidade nos entorpece a ponto de nos fazer crer numa grande possibilidade.
Pode-se concluir que o capitalismo entra em crise quando falha em produzir expectativas, frustrando nossas vaidades, e tem seu auge quando é fértil em expectativas, alimentando nossas vaidades.
Mauro Salvo, economista

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